O PERFUME, A História de um Assassino - Patrick Suskind

Existem livros que marcam a vida da gente, este é um deles. Li O Perfume pela primeira vez a cerca de 22 anos e este livro nunca mais saiu da minha cabeça. Jean-Baptiste Grenouille, o anti-héroi deste livrio, é um personagem fascinante, do seu nascimento até o seu final, a história da sua vida é uma tragédia em progressão geométrica, para ele e para os que o cercam ou que simplesmente passaram por sua vida. Ele nasce numa feira, literalmente em cima do lixo, numa Paris fétida do iníco do século 17, tinha tudo para nascer morto ou morrer logo após o nascimento, mas ele sobrevive; vai para um orfanato onde sofre o desprezo dos outros internos e é acometido de todo tipo de doenças, mas ele sobrevive; é vendido para um curtume, onde trabalha em regime de escravidão, mais doenças, mas sobrevive. Até seu dom ser descoberto, um olfato apuradíssimo, capaz de identificar qualquer coisa através do cheiro, e sua saga em busca do perfume perfeito começa e ele não mede esforços para conseguir este elixir supremo, mesmo que para isso seja preciso matar.

Esta busca por este perfume se dá a apartir de um fato, que para mim é a melhor parte do livro, numa determinada fase da sua vida, Jean-Baptiste resolve se exilar do mundo civilizado e passa a viver nas montanhas como um eremita, quando num certo dia, dentro da caverna onde morava, ele começa a sentir o cheiro de tudo o que o rodeia, identificando cada coisa, até chegar a si mesmo e neste momento ele descobre que ele não tem cheiro e  a forma como esta descoberta é narrada no livro é fantástica, após descobrir esta particularidade sobre si mesmo, ele resolve produzir o cheiro do ser humano e só posso dizer uma coisa, é preciso ler o livro para saber os ingredientes que ele utilizou para reproduzir o cheiro do homem, é uma metáfora sensacional sobre a condição humana, tem que ler para saber. A partir daí ele começa a sua história de assassino e sua procura pelo perfume que irá torná-lo uma pessoa amada por todos e não um escárnio humano como fôra toda a vida.

No filme realizado não existe a cena do seu isolamento e a descoberta da sua falta de odor, mas após sua saga e a feitura do elixir, no filme foi feita a cena dele no cadafalso onde ele utiliza uma gota do perfume e transforma a praça num verdadeiro bacanal dionisíaco, é uma das mais belas cenas do filme, principalmente porque foi muito bem adaptada do livro, me emocionei ao ver materializada esta cena sublime que imaginei há anos quando li este livro. Sensacional. Este livro tem um final surpreendente, como não poderia deixar de ser, já que o livro inteiro é uma perfeição literária. Belíssimo livro. LEIAM.

A Nuvem - Sebastião Nery

Este livro é uma auto-biografia. Sebastião Nery é baiano, de Jaguaquara, formado em Filosofia e Direito, mas sua principal atividade foi o jornalismo, cobrindo pricipalmente os fatos políticos que marcaram a segunda metade do século passado. Ele foi também, vereador (Belo Horizonte), deputado estadual (Bahia) e deputado federal (Rio de Janeiro). Este livro, muito mais que uma biografia, é uma aula de história da política no Brasil, contada na visão de quem vivenciou e noticiou estes acontecimentos; é uma leitura prazerosa, uma narrativa que prende o leitor, histórias e fatos que marcaram a política brasileira contadas com nuances não encontradas em nenhum outro livro, curiosidades e detalhes que só poderiam ser contados por quem vivenciou estes fatos. Além da vida real, dos meandros e artifícios da política, do golpe de 64, ainda cabe no livro: romances, diversão, viagens e encantamento pela vida. Não deixem de conhecer a vida dessa pessoa fabulosa e de suas histórias fascinantes.

Na última terça-feira (23/08), tive o prazer de participar do projeto MK Entrevista, onde o entrevistado foi exatamente o Sebastião Nery, não podia perder a chance de ouvir ao vivo as histórias desta grande personalidade e valeu a pena, pois além de conhecê-lo pessoalmente, tive a chance de ter o meu livro (A Nuvem) autografado.

Palavra (En)Cantada - Documentário de Helena Solberg

Vamos dá uma pausa (ou não) na leitura e ver e ouvir este belo documentário que fala da estreita relação entre a literatura (ó ela aí de novo) e a música. Vi este documentário pela primeira vez numa sessão especial para pais e filhos no cinema de arte de UFBa, as minhas meninas tinham um ano e pouco  e o cinema estava cheio de crianças correndo de um lado para o outro e eu atrás das minhas que insistiam em ficar no palco, mas entre uma correria e outra pude ver um pouco do filme e pelo pouco que vi gostei bastante, quando saiu o DVD (duplo) tratei logo de comprar e este documentário e fantástico, os depoimentos, as citações, as músicas, tudo genial. Abaixo a sinopse constante no site do filme:

Palavra (En)Cantada é um documentário de longa-metragem (86min), dirigido por Helena Solberg, que percorre uma viagem na história do cancioneiro brasileiro com um olhar especial para a relação entre poesia e música. Dos poetas provençais ao rap, do carnaval de rua aos poetas do morro, da bossa nova ao tropicalismo, Palavra (En)cantada passeia pela música brasileira até os dias de hoje, costurando depoimentos de grandes nomes da nossa cultura, performances musicais e surpreendente pesquisa de imagens.

O filme conta com a participação de Adriana Calcanhotto, Antônio Cícero, Arnaldo Antunes, BNegão, Chico Buarque, Ferréz, Jorge Mautner, José Celso Martinez Correa, José Miguel Wisnik, Lirinha (Cordel do Fogo Encantado), Lenine, Luiz Tatit, Maria Bethânia, Martinho da Vila, Paulo César Pinheiro, Tom Zé e Zélia Duncan. Imagens de arquivo resgatam momentos sublimes de Dorival Caymmi, Caetano Veloso e Tom Jobim.

A maioria das entrevistas foi realizada na casa dos entrevistados, em atmosfera intimista, com o registro de declamações e canções especialmente para o documentário. Poemas de Fernando Pessoa, João Cabral de Melo Neto, Hilda Hilst e pérolas de nossos grandes compositores conduzem o roteiro do Palavra (En)Cantada. Entre as músicas do filme estão Choro Bandido (Chico Buarque/Edu Lobo), Alegria, Alegria (Caetano Veloso), Alvorada (Cartola), História do Brasil (Lamartine Babo), Inclassificáveis (Arnaldo Antunes), Fábrica do Poema (Adriana Calcanhotto/Waly Salomão), 2001(Tom Zé/Rita Lee) e O Mar (Dorival Caymmi).  

Assistam e divirtam-se.

Navegação de Cabotagem - Jorge Amado

Aqui minha homenagem a este grande escritor baiano, que esta semana completaria 99 anos, um dos maiores escritores do mundo, conhecido e reconhecido por sua grande obra literária. Nesta auto-biografia narrada sem rigor cronológico, onde as histórias são contadas como numa conversa informal, podemos conhecer um pouco mais deste grande homem que foi Jorge Amado, a sua convivência com grandes nomes da cultura mundial, suas histórias hilariantes, sua forma descontraída de viver a vida, seus amigos, suas aventuras e sua importância para a literatura brasileira. Um livro sensacional para quem quer conhecer este grande gênio da literatura.

Eu sou um grande admirador da obra de Jorge Amado, seja das suas histórias picantes e sem pudor, seja da suas histórias de cunho político, seja dos seus belos romances. Foi um grande contador de história, não há como não se envolver com as suas belas histórias e não há quem não conheça pelo menos um persongem criado por ele, afinal, além dos livros, suas histórias foram adaptadas para a TV, cinema e teatro. Não deixem de conhecer esta grande figura e leiam abaixo um trecho do livro.

"Aproxima-se a data dos oitenta anos, por que se considera tão curto tempo de vida façanha a celebrar, empreitada a saudar com estrondo e festa? De toda parte, do Brasil e do estrangeiro, chegam convites para comemorações, atropelam-se as notícias, os projetos, programas infindáveis de solenidades, cresce a pressão para que aceite ir aqui, ali e acolá de ceca em meca, ouvir discursos, pronunciá-los, agradecer elogios de corpo presente, participar de atos, seminários, fóruns, almoços e jantares, quanta coisa se inventa para proclamar-se a caduquice. A generosidade dos amigos, o carinho dos leitores me comovem, mas todo esse cerimonial parece-me conter laivo de despedida, tem ar de adeus em necrológio: aqui repousa em paz, epígrafe em mausoléu, letras de ouro em campo santo.
Digo não ao discurso, à medalha, à fanfarra e aos tambores, à sessão solene, ao incenso, à fotografia de fardão ou em mangas de camisa exibindo as pelancas e a dentadura, não sou andor de procissão. Dá-me tua mão de conivência, vamos viver o tempo que nos resta, tão curta a vida!, na medida de nosso desejo, no ritmo de nosso gosto simples, longe das galas, em liberdade e alegria, não somos pavões de opulência nem gênios de ocasião, feitos nas coxas das apologias, somos apenas tu e eu."

O Anjo Pornográfico - Ruy Castro

Gosto muito de ler biografias e considero Ruy Castro o melhor biógrafo brasileiro, além de escrever muito bem ele contextualiza a vida do biografado com os fatos históricos e faz uma pesquisa bem minuciosa, destacando os fatos relevantes que determinaram os caminhos da pessoa em questão.

No caso deste livro, todos os fatos históricos, culturais, políticos, econômicos e sociais são de extrema importância para se entender a formação da produção de Nelson Rodrigues. Antes de ler este livro o único contato que tive com a obra de Nelson foi através das inúmeras versões cinematográficas de sua extensa obra, versões estas sempre dando ênfase a promiscuidade e as perversões familiares, nunca entendia quando lia sobre Nelson Rodrigues e se referiam a ele como um gênio.

Após ler esta biografia, conhecer toda a história familiar e os fatos históricos que cercaram a vida de Nelson Rodrigues, passei a saber e a concordar, o cara foi um gênio, principalmente no teatro, onde ele inovou a linguagem e as montagens teatrais da época, ousando e criando elementos de cenas inimagináveis, além disso, as suas peças eram repletas de realidade, carregadas de dramaticidade e os personagens repletos de humanidade. A vida da família Rodrigues é o ponto principal do livro e assim temos noção dos fatos que formaram a genialidade de Nelson Rodrigues. No livro, um dos fatos mais marcantes, é a narração da primeira exibição da peça Vestido de Noiva, a primeira do Nelson, ao ler você passa a entender o motivo desta peça ser um marco na história do teatro brasileiro.